Kátia Abreu: “Produtor rural não pode pagar para alimentar o País”

08 Jun 2011

 

“Hoje, para variar, vamos mudar um pouco de assunto. Estou cansada de falar do Código Florestal”. Foi assim que começou a fala da senadora e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Kátia Abreu, no primeiro dia do Congresso Internacional da Carne. Ainda assim, mesmo que indiretamente, o assunto permeou todo o discurso da senadora, que rebateu com números as principais críticas ao agronegócio no país.

O primeiro dado apresentado tratava da balança comercial brasileira. De acordo com ela, nos últimos 10 anos o saldo de exportações do país seria negativo não fosse a produção rural. “As pessoas criticam o agronegócio dizendo que ele é só commoditie, ou que é só para o mercado externo. Mas esquecem que o país depende muito dos produtores”. Segundo o IBGE, o PIB do Brasil gira em torno de 2 trilhões. Desse total, 23% é representado pelo agronegócio, sendo que 70% desse valor fica com a agricultura e 30%  com a pecuária.

Levando em conta exclusivamente esta última, os dados de exportação também vão contra a ideia da produção voltada para o mercado externo. “O brasileiro é o consumidor mais valioso que temos. É ele nosso maior comprador”. Do total, enviamos para fora 20% da carne de suíno e 37% da de frango. “De maneira geral, enviamos para fora 19% da produção de carne brasileira. E isso, para o mercado externo, já representa 33% de todas as exportações do mundo”.

Demanda por Alimentos

Atualmente, existem 7 bilhões de pessoas no mundo. Até 2050, a perspectiva é que o número aumente para 9 bilhões. Se hoje, já é uma das políticas do governo brasileiro erradicar a fome, com um maior número de consumidores – e por consequência, um menor espaço para produção – fornecer alimento para a população será ainda mais urgente. E mais, a tendência do aumento da procura é levar igualmente a um aumento do preço dos produtos.

“Até essa data, seremos o único país capaz de alimentar o mundo”, propôs a senadora. No entanto, ela também reforçou que ainda com tal potencialidade, o papel do agronegócio é de atender uma demanda e não sanar problemas. “Esse é um papel do governo. O produtor rural não pode ser o responsável por acabar com a fome no mundo.  Precisamos ser remunerados justamente”.

Consumo de Carne

Didática, a senadora Kátia Abreu passa quadro após quadro para que a plateia acompanhe o raciocínio. “É fato que o consumo de carne está ligado diretamente a renda da pessoa. Se a pessoa ganha mais, ela vai melhorar primeiro o prato de comida, e depois o resto”. Com isso em vista, de acordo com ela, o último levantamento aponta que 20 milhões de pessoas integram as classe A e B, concentrando 44% do poder de compra. Por sua vez, as classes D e E englobam 75 milhões de pessoas, mas com um poder de compra reduzido; apenas 10%. “Nossas ações devem focar a classe média, a C, que totaliza 96 milhões de pessoas e 46% da renda do País”.

 

Classe A e B

Classe C

Classe D e E

Pessoas

20 milhões

96 milhões

75 milhões

Poder de compra

44%

46%

10%

Ainda tratando da divisão desigual entre as classes sociais, dados da CNA apontam que os produtores rurais pertencentes as classes A e B conseguem gerar R$ 800 por hectare/ano– “isso devido a média gerada pela pecuária, por que se fosse só a agricultura o valor subiria para no mínimo R$ 2 mil”, afirma Kátia. Já as classes D e E, que não possuem tanto acesso à inovação e tecnologia conseguem em média uma renda de R$ 100 por hectare/ano. “Essa classe possui em suas mãos 115 milhões de hectares. Imagine o quanto a produção dessas terras pode aumentar com o investimento certo?”. 

 

Fonte: Andriolli Costa / Rede Rural Centro



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