A competitividade da avicultura brasileira

08 Sep 2014

(*) por Vitor Hugo Brandalize

O Brasil é um País fantástico e com condições diferenciadas na área do agronegócio, segmento que vem permitindo que a balança comercial e o PIB brasileiro se mantenham positivos. No entanto, devido à globalização e às mudanças no cenário macroeconômico, o Brasil vem perdendo parte desta competitividade. Isto poderá ser um sério problema para o futuro do País, portanto, empresários e governantes precisam desenvolver rapidamente uma estratégia, a médio e longo prazo, que permita que sejam corrigidas as deficiências que vem comprometendo o nosso negócio.

Certamente, o agronegócio é uma área de investimento promissora, pois até o ano de 2050 teremos um incremento na população mundial de aproximadamente 2 bilhões de habitantes, o que fará com que a demanda por alimentos no mundo aumente em 70%. Além do crescimento da população mundial, principalmente em países da África, Oriente Médio e Ásia, a economia vem reagindo positivamente e em alguns países como China e Índia, este crescimento está muito acima da média internacional. Estes dois fatores - o crescimento da população associado a um maior incremento financeiro da população - fazem com que ocorra um aumento no consumo das proteínas no mundo. O gráfico abaixo demonstra os incrementos que ocorreram no consumo de proteínas (em milhões de toneladas) nos últimos anos e a tendência futura.

consumo mundial de proteínas 1960 até 2020

Se a disponibilidade de terras agricultáveis é finita, quem serão os grandes players neste negócio?

A figura abaixo enfatiza que Brasil, Estados Unidos e Argentina serão os grandes fornecedores de alimentos do mundo.

fornecedores mundiais de alimentos

Mas o que nos leva a crer que nós estaremos entre os grandes produtores de alimentos do mundo?

A MBrasil (Advanced Business Intelligence) apresenta no mapa abaixo o potencial de crescimento global na agricultura.

avanço mundial da agricultura

A África Subsaariana é o continente com o maior potencial a ser explorado. No entanto, apresenta sérios problemas como fatores climáticos adversos, economia debilitada, instabilidade política e atraso tecnológico.

Desta forma, a América do Sul, e em especial o Brasil, serão os grandes responsáveis por suprir a demanda de alimentos do mundo. O Brasil poderá aumentar a produção de grãos de uma forma sustentável, utilizando novas áreas de terra produtiva. Atualmente, 170 milhões de hectares são utilizados para pastagem, dos quais 62 milhões de hectares poderiam ser facilmente transformados em áreas agrícolas. O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo e o segundo de soja (provavelmente, será o primeiro nas próximas safras). Além disso, o Brasil é um País onde as condições climáticas permitem que em algumas regiões possamos produzir três safras em um mesmo ano. E este é um grande diferencial em relação aos outros países.

Se o Brasil é um dos maiores produtores de grãos (ingredientes fundamentais para a produção de frangos) e é o terceiro maior produtor e o maior exportador de frangos do mundo, por que estamos perdendo a nossa competitividade?

A resposta é simples: no passado, algumas de nossas ineficiências eram superadas pelos baixos custos dos grãos no Brasil. No entanto, nos últimos anos os preços passaram a ser definidos pelo CBOT (Chicago Board Of Trade), o que fez com que ocorresse um balizamento entre os preços dos grãos do Brasil e os do mercado internacional. A tabela abaixo apresenta um comparativo entre alguns países dos custos de produção dos frangos processados no frigorífico:

• Custo de produção (US$ / Kg)
EUA - 1,42
China - 2,17
Brasil - 1,37
México - 1,42
India - 1,15

A partir da década de 80, os Estados Unidos passaram a utilizar uma grande quantidade de milho para a produção de etanol e, mais recentemente, em 2010, a China iniciou a importação de milho. Estes dois fatores foram os grandes responsáveis pelas mudanças nos custos dos grãos no mundo. Até o ano de 2000, os preços do milho em Chicago eram de aproximadamente US$. 100,00 / ton. No entanto, nos últimos anos estes valores mudaram de patamar e encontram-se acima de US$. 180,00 / ton. Sendo assim, provavelmente, os custos de produção brasileiros não retornarão aos patamares de 10 anos atrás! Se segmentarmos os custos de produção dos frangos processados, observaremos que os custos do frango vivo na plataforma, a mão de obra e as embalagens representam mais que 95% de todos os custos:

Mão de Obra 13,2%
Energia 1,5%
Embalagem 5,1%
Frango Vivo na Plataforma 77,4%
Outros (Depreciação, etc...) 2,7%
Total 100%

Em relação aos custos de produção dos frangos vivos, as nossas atitudes não terão muito efeito já que os grãos representam entre 65% e 70% dos custos totais dos frangos vivos e a definição dos preços dos grãos depende do mercado internacional.  A mão de obra é o segundo maior custo e se considerarmos salários e encargos estes custos vem aumentando mais que 10% ao ano. Se seguirmos com esta mesma tendência, nos próximos 10 ou 15 anos os salários dos colaboradores das plantas ultrapassarão os salários dos colaboradores dos Estados Unidos, o maior produtor de frangos do mundo! Salário elevado é muito bom, pois esta é a forma de aumentarmos o consumo, mas o problema é quando temos salários elevados com baixa produtividade, e esta é a situação do Brasil!

Além disso, o País segue uma legislação trabalhista obsoleta, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que surgiu há mais de 70 anos. Naquele momento, esta legislação foi importante, pois foi uma forma de proteger os empregados. Mas será que nada mudou nestes 70 anos?

Às vezes me pergunto porque  não seguirmos exemplos de países onde as legislações não são complexas e protecionistas. Nestes países, estas legislações estão funcionando bem e consequentemente as economias seguem crescendo de uma forma sólida e consistente.  Para que possamos entender melhor a situação, os benefícios e previdência sobre os salários no Brasil são muito superiores aos da França, Holanda, Alemanha, Estados Unidos e Tailândia. Além das dificuldades trabalhistas que os empresários enfrentam diariamente, recentemente, foi aplicada nos frigoríficos brasileiros a Norma Regulamentadora (NR) 36, com intervalo intrajornadas. Esta medida aumentou os custos industriais em aproximadamente R$ 0,02 / kg!

O Brasil é o maior exportador de frangos do mundo. Exportamos mais que 30% de toda a nossa produção e enviamos a nossa carne de frango para mais de 150 países. A qualidade de nossos produtos indiscutivelmente está entre as melhores do mundo. O problema é que alguns países impõem restrições baseadas em decisões emocionais de seus clientes e para que a indústria brasileira consiga atender a estas solicitações, acabamos comprometendo os custos de produção. O SIF (Serviço de Inspeção Federal) brasileiro vem desenvolvendo um excelente trabalho, no entanto, os custos proporcionados por estes controles possui um peso expressivo no custo final dos produtos. Atualmente, o número de funcionários ligados ao SIF em plantas representa mais que 3% do número total dos colaboradores ligados à produção.

Além dos pontos citados acima, poderíamos falar sobre as cargas tributárias elevadas. De acordo com um levantamento realizado no final de 2013, pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), as carnes chegam à mesa dos consumidores brasileiros com uma carga tributária de 29,32%. A ineficiência de nossa logística, que devido à Lei dos Caminhoneiros aumentou em 20% os custos dos fretes rodoviários no último ano, somada à falta de investimentos portuários e os elevados custos para construir uma planta de abate no Brasil (se considerarmos os custos de investimento por cabeça de ave abatida), tornam os custos brasileiros mais elevados do que dos Estados Unidos e Tailândia.

Os pontos citados acima são os principais fatores que vem comprometendo a perda da competitividade da avicultura brasileira. O que precisamos fazer é manter o foco em rendimento, eficiência, mão de obra, controle de custos e qualidade.

No entanto, além dos pontos que estão sob a nossa responsabilidade, não poderemos deixar de discutir com as classes empresariais e governantes as causas de nossa perda de competitividade, pois se lembrem de que temos uma responsabilidade social e que, além de alimentarmos o nosso País, precisaremos alimentar o mundo também!

Para concluir, gostaria de citar uma frase do Joelmir José Beting, jornalista e sociólogo brasileiro, de grande contribuição para o jornalismo, a economia e a comunicação de nosso País:

“No Brasil, fomos dopados pela cultura da abundância, irmã siamesa da cultura da ineficiência, da acomodação e da tolerância; responsável pelo nosso atávico desperdício de terra, de água, de mata, de energia, de sossego e de gente” (Joelmir Beting).

Custo de produção de frango de corte: margem se sustenta no 2º sem

(*) Vitor Hugo Brandalize é especialista do time de suporte técnico mundial da Cobb-Vantress

Fonte: Divulgação



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