Agropecuária em Rondônia: conjuntura favorece investimentos

01 Oct 2014

Em 2003, Alexandre Foroni, produtor rural de Pimenta Bueno, interior de Rondônia (520 km da capital Porto Velho), já observava seu pai vendendo boi para reformar pasto. “A pecuária vai melhorar e nós precisamos estar preparados”, dizia ele. 11 anos depois, a situação melhorou. Não de forma definitiva, já que o mercado de bovinocultura de corte vive de ciclos, mas porque o momento é justamente a fase de alta deste ciclo, com a arroba alcançando níveis históricos em valores nominais. Mas, com custos de produção em alta, só obtém lucro quem se preparou. Foroni lembrou desta passagem durante sua apresentação feita na terceira etapa do Circuito Expocorte 2014, realizada em Ji-Paraná/RO (375 km da capital) em 17 e 18 de setembro. O tema central do workshop deste ano tem foco em “Como conseguir o máximo de minha propriedade?”, buscando eficiência dentro da porteira, passando pelos altos e baixos do mercado obtendo renda.

O tema é estratégico atualmente. Para os estados produtores e para o Brasil como um todo, o crescimento do agronegócio funciona como mola propulsora da economia ou como suporte para evitar déficits ainda maiores, como um rombo na balança comercial. No país, cerca de um quarto do PIB é composto por agronegócio, fatia ainda maior no estado de Rondônia, onde representa um terço, estima o assessor especial da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento e Regularização Fundiária de Rondônia (Seagri/RO), Adilson Julio. “Ultimamente o agronegócio, não só em Rondônia, mas no Brasil, tem crescido acima média. Rondônia tem crescido 6,5 a 7% ao ano, o que é possível com uma pecuária forte e produção de grãos em larga escala”, avalia.

Balança comercial brasileira (acumulado de janeiro a agosto de 2014)
Saldo Brasil R$ 250,8 milhões
Saldo do Agronegócio R$ 56,3 bilhões
Balança comercial brasileira sem agronegócio - R$ 56,049 bilhões

Fonte: Secex

Agropecuária em Rondônia
Em 2013, o abate de bovinos no estado avançou 11,9% sobre o ano anterior, pouco mais que a média de crescimento nacional, de 10,6%, resultando num abate de 2,2 milhões de cabeças, aponta o relatório do IBGE, classificando RO como o 7º maior produtor brasileiro. Em exportações de carne bovina, a Secex mostra que Rondônia foi o estado que mais cresceu entre os exportadores mais relevantes (avanço de 50,4%), embarcando 120,2 mil toneladas para o exterior e perdendo proporcionalmente apenas para Bahia, cujas vendas externas cresceram 346%, mas é pouco expressivo em números absolutos: somente 1,6 mil toneladas. A produção de grãos permaneceu praticamente estável de 2012/13 para 13/14, crescendo 1,4% para 1,23 milhão de toneladas, de acordo com o último relatório da Conab. Enquanto o milho teve produção retraída em 9,2%, o que representa uma colheita de 455 mil toneladas, os produtores de soja expandiram o negócio em 12,7%, colhendo 607 mil toneladas.

A expansão da agricultura, mesmo que tímida, é vista com bons olhos pelos produtores locais. “A gente vê a produção de grãos favorecendo a terminação do boi. Está crescendo não só a terminação com grão, como também para fornecimento de volumoso”, relaciona Luiz Carlos Lyra, presidente da Associação Rural de Rondônia, a ARR. “O avanço de abate em 2013 foi positivo porque estamos num estado produtor de bezerro, o que valorizou bem o mercado. A quantidade de alimento hoje disponível faz ainda todo mundo tratar o boi, colocando no cocho, isso é muito bom”, aprova o empresário e produtor Gilberto Borgio.

Para os próximos anos há ainda perspectiva de crescimento da produtividade tanto para pecuária como para a agricultura por conta da instalação da usina de calcário Félix Fleury em Pimenta Bueno. O insumo é considerado essencial para qualquer atividade agrícola, corrigindo acidez de solo e permitindo à plantas (pastagens ou grãos) absorver mais nutrientes do solo. A produção de calcário, que atualmente funciona de modo artesanal, conforme diz Adilson Julio, poderá atingir 480 mil toneladas por ano e suprir boa parte da demanda dos produtores da região. “É possível produzir mais sem necessidade de desmatar. Na região amazônica, temos que ter consciência de que para produzir mais precisamos recuperar áreas degradadas e corrigir solos usando calcário”, recomenda o assessor especial da Seagri.

Demarcação dificulta acesso a insumo e prejudica recuperação de solo no MT

Antes da entrada em operação da usina Félix Fleury, o calcário que chegava a Rondônia vinha do Mato Grosso custando R$ 180,00 por tonelada. Quando a usina local estiver em pleno funcionamento, a estimativa é que o valor caia para R$ 50,00 a tonelada. “Os efeitos nós vamos começar a perceber a partir da próxima safra (2014/15), com aumento da produção, da qualidade dos produtos e ainda reflexos na preservação ambiental. Além de não desmatar, vamos recuperar áreas degradadas que não estavam gerando receita para o estado e inviabilizando negócios. Isso prova como agronegócio é viável em Rondônia”, indica Julio. Até 2015, mais uma usina deve começar a produzir calcário e a produção poderá atingir 960 mil toneladas/ano.

Mas ainda há dificuldades a serem superadas para que os insumos cheguem aos produtores. Segundo Luiz Carlos Lyra, da ARR, caminhões carregando 40 toneladas de calcário ainda não trafegam facilmente pelas estradas do estado. “A gente vê procura por parte do produtor, o que é um avanço grande. De toda forma, a logística ano a ano vem melhorando, favorecendo a chegada do estágio em que não precisaremos mais trazer calcário do Mato Grosso. Já melhorou muito”, reconhece Lyra.

usina de calcário em rondônia
Foto ilustrativa: Reprodução / Portal Rondônia

Industrialização
Para potencializar a renda advinda da produção primária, o governo do estado de Rondônia tem apostado no beneficiamento de produtos para gerar e distribuir mais renda na região. Para os próximos anos está prevista a construção de um instituto de tecnologia do couro para industrializar a matéria-prima, qualificando mão de obra para gerar 10 mil empregos no setor. Em 2013, o estado produziu 1,4 milhão de unidades de couro bovino.

Além da pecuária, a agricultura também tem possibilidade de transformar produtos primários. A aquicultura, que saiu de uma produção de 12 mil toneladas para alcançar a marca de 70 mil toneladas/ano, puxou a instalação de fábricas de ração no estado, que agora chega a um preço mais competitivo para os aquicultores locais. “É curioso lembrar que as indústrias de ração, principalmente para piscicultura, são de empresários que eram do ramo madeireiro. Com passar do tempo, a extração foi ficando menos atrativa e os empreendimentos se transformaram em fábricas de ração, que têm mercado crescente dentro do estado”, informa Adilson Julio.

Já são, ao todo, 450 agroindústrias no estado. Além de atentar para as cadeias mais expressivas, o beneficiamento de matéria-prima também contempla as pequenas produções, possibilitando a emissão de selos de serviço de inspeção municipal ou estadual (SIM ou SIE) para pequenas fábricas de laticínios e similares, que começaram a ficar com mercado restrito devido às exigências dos consumidores. O intuito é fornecer condições para que produtores e suas famílias possam continuar morando no campo, comercializando produtos que tenham endereço e certificação, evoluindo da produção familiar para a empresarial.

Regularização fundiária e crédito rural
A regularização fundiária de propriedades, que costumava barrar contratação de crédito para investimento, passou a ser priorizada pelo poder público de Rondônia. Em 2014, seis mil propriedades rurais foram tituladas e a meta é titular outras cinco mil em 2015. A ideia é que os proprietários tenham acesso a capital e possam adquirir genética e insumos para aumento de produtividade. A medida surtiu efeitos. No evento Rondônia Rural Show, que em 2014 foi realizado entre 21 e 24 de maio, houve disponibilidade de linha de crédito de até R$ 50 mil com juro zero custeado pelo governo. O fechamento de negócios durante a feira, cuja expectativa girava em torno de R$ 300 milhões, terminou com R$ 500 milhões contratados.

Para os casos em que as regularizações fundiárias ainda não foram feitas e que podem avançar para conflitos agrários, foi instituída uma frota de quatro veículos. Eles se localizam em regiões onde há iminência de confrontos, com possibilidade de deslocamento para todo o estado.

Números
Pecuária em Rondônia
- Rebanho: 12,2 milhões de bovinos - 7º maior do Brasil (IBGE, 2012);
- Abate: 2,2 milhões de cabeças - 7º maior do Brasil - , crescimento de 11,9% sobre 2012 (IBGE, 2013);
- Exportações: 120,2 mil toneladas - 5º maior do Brasil -, crescimento de 50,4% sobre 2012 (Secex, 2013);
Agricultura em Rondônia (2013/14 em comparação com 2012/13)
Área plantada: 421,9 mil hectare, oscilação de 0,1% para mais;
Produção: 1,23 milhão de toneladas, crescimento de 1,6%;

(Conab, 2014)
Soja em Rondônia
Área plantada: 
191,1 mil hectares, crescimento de 14%;
Produção: 607 mil toneladas, crescimento de 12,7%;
(Conab, 2014)
Milho em Rondônia
Área plantada: 149,3 mil hectares, redução de 10,2%
Produção: 455 mil toneladas, redução de 9,2%;
(Conab, 2014)

Circuito Expocorte 2014
A próxima etapa do circuito ocorre no Tocantins, na cidade de Araguaína. Veja mais detalhes abaixo:

+ Expocorte Araguaína 2014: inscrições e programação

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Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro



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