Ovinocultura sem fronteiras

18 Nov 2014

(*) por Paulo Augusto Franzine

Desde maio, quando da assembleia anual da OIE (Organização Internacional de Saúde Animal), comemoramos uma grande conquista da pecuária brasileira: a derrocada das barreiras contra febre aftosa em toda a Região Nordeste. Em outras palavras, criadores antes impedidos por corredores sanitários poderão transitar livremente pelo País sem enfrentar processos burocráticos e onerosos, como a quarentena. Para comemorar, pela terceira vez, levaremos nossa principal exposição para Salvador (BA). Também iniciamos um projeto audacioso para estimular a organização da cadeia produtiva ovina, apresentando peculiaridades e cases por essa região. Já passamos por Pernambuco, Ceará, Alagoas, Piauí e Bahia.

Entendo que essa deve ser nossa responsabilidade, afinal, é inconteste a participação das raças Dorper e White Dorper no desenvolvimento de um padrão de qualidade para a carne de cordeiro nacional. Tanto é verdade que o produto resultante do cruzamento com essas raças de origem sul-africana foi o primeiro a receber certificação de padrão internacional. De modo geral, não podemos esquecer jamais que foi por causa dessa preocupação que criamos demandas maiores para o produto carne e nossa genética. Agora, temos de combater a clandestinidade e produzi-la em escala comercial. E acreditem, valerá muito a pena. Nunca antes na história da ovinocultura, a remuneração foi tão boa. Temos a faca e o queijo nas mãos.

E quando falamos nesse assunto, é preciso entender que o Nordeste será crucial no desenvolvimento da ovinocultura. Cerca de 56% do rebanho nacional de ovinos, ou 10 milhões de cabeças, nessa região. Deste total, quase um terço está na Bahia, que recentemente enfrentou uma seca avassaladora. Soube até de produtores de gado que preferiram migrar para nossa atividade ao ver seus rebanhos, aos poucos, definharem.

A queda dessas barreiras por si só não é santo milagroso.  Darei um exemplo. A Bahia, assim como Sergipe, recebeu classificação de zona livre de aftosa com vacinação em 2003, só que de lá pra cá pouca coisa mudou. O produto de origem, dentro os padrões sanitários, continua enfrentando concorrência desleal do abate “não oficial”. Lá, um estabelecimento credenciado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) opera com menos de 50% da capacidade. Enfrentam extrema dificuldade, mesmo firmando parcerias com produtores.

Esse, aliás, é um hábito quase arraigado na cultura regional. Os nordestinos, assim como os sulistas, sabem produzir essa carne como poucos, mas, por incrível que pareça, até lá existem restaurantes importando para atender suas clientelas. Não se sintam desanimados, caros leitores, este é um cenário que certamente mudará. Pense num mercado sem concorrência, pronto para ser explorado.

Qualidade será essencial no processo, sem a qual não vamos para lugar nenhum. O consumidor deseja é a carne de cordeiro, de animais abatidos ainda jovens. Lembre-se que, por um lado faltam ovinos, mas do outro tem gente disposta a produzi-los, mesmo enfrentando burocracias que desaceleram nossa economia. Em Xique-Xique, na Bahia, por exemplo, um projeto gigantesco dá seus primeiros passos, com a inseminação de 600 matrizes comerciais. Ele só deve se estabilizar quando atingir a marca de 15 mil matrizes. Parcerias podem fazê-lo crescer ainda mais, isso virá com o tempo, certamente.

E existem outros exemplos, como no Ceará, onde uma companhia de alimentos processa mais de 200 toneladas de carne por ano. A partir de tecnologias simples, ainda pouco exploradas, como a inseminação artificial convencional, conseguem índices de fertilidade acima de 75%. Já em Alagoas, iniciativas público-privadas tentam expandir o rebanho e o número de criadores na tentativa de abastecer as demandas da capital Maceió e das grandes cidades do interior. A grande promessa virá mesmo com o lançamento de um frigorífico credenciado que só se pronunciará oficialmente após o início das atividades.

Para sustentar o desejo de consumo que despertamos, se faz necessário investir na genética. E os criadores que a produzem, de certa forma, vão muito bem. Os nordestinos ainda resistem em usar carneiros selecionados, mas quando o fazem, logo se rendem aos ganhos de heterose, fazendo girar um mercado que ainda tem muito a crescer. Com essa nova realidade, conseguirão divulgar seu trabalho de maneira ágil e valorizar seus plantéis. Nessa Nacional, por exemplo, veremos criadores estreando num evento deste nível.

Todos têm a chance de se beneficiar dessa conquista, basta apenas vontade, investimento e tino empreendedor. A ovinocultura só vai prosperar quando houver matéria-prima suficiente para atender o consumidor. E para alcançar tais objetivos, a boa e velha genética se faz mais necessária do que nunca.

(*) Paulo Augusto Franzine é proprietário da Malu Dorper, em São Roque (SP), e presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper), entidade responsável pela realização da 8ª Exposição Brasileira das Raças Dorper e White Dorper, entre os dias 28 de novembro e 7 de dezembro, em Salvador (BA).. Informações: secretaria@abcdorper.org.br ou www.abcdorper.org.br.

Fonte: Divulgação



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