Brasil tenta exportar mais maçã à Rússia; fruticultura ganha espaço

22 Nov 2014

Em janeiro começa a safra da maçã. Em março e abril é o pico da colheita. Em junho as exportações costumam estar praticamente finalizadas. Mas até comecinho de 2015, no mais tardar, as negociações externas têm que estar concluídas. Diante desse calendário os exportadores brasileiros estão tentando encaixar maiores quantidades à Rússia, aproveitando-se do embargo do país aos fornecedores do Hemisfério Norte, em especial os vizinhos poloneses.

A rigor trata-se da única fruta do Brasil que poderia se beneficiar das restrições de comércio que o Kremlin impôs a europeus e americanos, vis-à-vis às restrições que estes impuseram ao país. As outras variedades exportadas para esse mercado são mais tropicais e não têm concorrentes na Europa – com certa exceção do melão, igualmente  produzido pela Espanha – e já apresentam crescimento ao longo de 2014, em torno de 75% (ver box abaixo).

Não será uma tarefa fácil para os produtores maçãs, em razão dos preços que as empresas necessitam praticar no mercado externo na próxima temporada e do tamanho (calibre) menor da maçã, mas não custa tentar, segundo Pierre Nicolas Pérès, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM). Afinal, qualquer coisa que saia das 296,3 toneladas de 2014 (US$ 197,5 mil) de vendas deste ano à Rússia – valor irrisório como irrisória ainda é a participação geral da fruticultura nacional entre os russos, importadores líquidos de frutas – é considerado lucro.

A Schio Agropecuária, hoje o principal exportador ao país euroasiático (80 t. e US$ 60 mil aproximadamente em 2014), e a Fischer Frutas, aceleraram seus contatos. A primeira, de Vacaria (RS), embarca amanhã (20) seu representante de comércio externo, a trading EBraz, para negociar com importadores diretos e distribuidores. A segunda, de Fraiburgo (SC), pertencente ao Grupo Fischer, um dos maiores produtores e exportadores mundiais de suco de laranja (marca Citrosuco), está negociando do Brasil mesmo.

“Além de tradicionais compradores, tenho agenda com alguns outros potenciais clientes”, lembra Ernani Sehnen, diretor da EBraz. O problema é que para a Schio, e de acordo com ele também deve valer para outros exportadores, a caixa de 18 kg precisa ser remunerada a US$ 18 pelo menos, “mas os russos dificilmente sairão dos US$ 12 a US$ 14”.

O motivo é que a Europa não tem o mercado russo para exportar sua supersafra do último verão e terá de absorver a quase totalidade, devendo, portanto, comprar muito menos do Hemisfério Sul, cujos principais produtores (Chile, Argentina, Brasil e África do Sul) vão ter que correr para a Rússia. “E os nossos custos de produção não permitem competir de igual com os outros”, completa Sehnem.

E a fruta de mesa do Chile e da Argentina ainda leva vantagem em tamanho, lembra Nicolas Pérès, da ABPM. A maçã gala do Chile é maior que a brasileira, por causa do clima mais frio, enquanto a red delicious argentina é tradicionalmente melhor calibrada. E a fuji nacional, 40% da safra total da fruta, é muito adocicada para o paladar dos consumidores de lá, o que anula a vantagem de seu porte mais avantajado.

A expectativa, assim, é que as vendas aos russos, se crescerem, crescerão residualmente na próxima safra nacional. Mas é uma boa oportunidade, contudo, para as empresas que não querem perder mercado uma vez que existe a expectativa de que as restrições comerciais entre os europeus e russos não durem para sempre. “E também para tentarmos reintroduzir a nossa empresa e mais maçã brasileira junto aos consumidores, que pode ser menor mas é mais saborosa”, diz Wilson Passos, gerente de comércio exterior da Fischer, que quer voltar àquele mercado após seis anos de ausência.

O comportamento total das exportações brasileiras da fruta, com a “janela” européia menos compradora por conta do excesso de maçã local (sic), e, portanto, mais barata, também gera alguma expectativa. As apostas estão mais com os importadores árabes, que levam cada vez mais de todas as frutas brasileiras, apesar de a Europa ainda representar 70% ou mais das compras externas.

Em 2014, globalmente, o Brasil conseguiu com as maçãs US$ 62,9 milhões (5º lugar entre as frutas exportadas), ou 85,4 mil t., contra US$ 48,5 milhões, em torno de 72,2 mil t., do ano anterior, de acordo com dados oficiais levantados pelas entidades do setor, entre elas a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas). Quase nada perto dos grandes concorrentes mundiais.

Já a safra foi pouca coisa menor que em 2013, 1,063 milhão de t., devido às altas temperaturas de janeiro, quando se esperava 1,2 milhão de t. Faltando pouco mais de 45 dias para a largada da temporada de 2015, com as macieiras na reta final de “engorda” das frutas, Pierre Nicolas Pérès, que também é vice da Abrafrutas e diretor da Pomagri, de Fraiburgo, calcula que o volume ficará emparelhado com a última colheita.

Exportações gerais modestas, mas em ascensão
Algumas das principais frutas in natura da pauta de exportação do Brasil chegam à Rússia, mas em volumes absolutamente modestos. No total, em 2013, foram 1,643 mil t., cuja receita chegou a US$ 1,063 milhão. Neste ano que finda, as contas podem apresentar uma elevação de até 75%, para 2,8 mil t., de acordo com estimativas do setor baseadas nos resultados oficiais da balança comercial.

Laranjas, limões tahiti (lima ácida, como é reconhecida no mercado internacional), maçãs, bananas, melões, mangas e uvas, pela ordem em volume, são as variedades de mesa que entram pelo porto de São Petesburgo ou por via terrestre trianguladas pelas tradings de Roterdã (Holanda). Outras frutas importantes brasileiras são desconhecidas na mesa dos russos, como mamão papaia, abacaxi e melancia.

A Valexport, da região irrigada do Vale do São Francisco, que reúne 37 associados, é está presente em mangas e uvas finas. A EBraz, que opera como trading das maçãs da Schio, exporta também mangas de suas três fazendas próprias. Foram 60 toneladas em 2014, por US$ 66 mil.

O melão é variedade com potencial a ser mais explorado na Rússia, de acordo com a Agrícola Famosa, da Mossoró (RN), de propriedade de Luiz Roberto Barcelos, também presidente da Abrafrutas. Maior exportadora brasileira da fruta – que também é a variedade líder em exportações da fruticultura nacional – a empresa não está presente nesse mercado.

Marcellus Júnior, trader da Famosa, conta que este ano foram feitos embarques exploratórios, em apenas três semanas. “Mas em 2015 os negócios vão deslanchar de vez com os russos”. Já a banana produzida pela Famosa foi exportada rotineiramente em todo o segundo semestre.

Modestas igualmente são as exportações globais do Brasil, apesar de figurar em 101 países e com uma lista de cerca de 22 variedades. As vendas fecharam em 711,8 mil t. o ano passado, com valores de US$ 657,8 milhões, com variação positiva de 2,72% e 6,26%, respectivamente, sobre 2012. Até o mês que vem, o ano deverá apresentar uma queda em volume (4,12%) e em receita (1,15%), como resultado direto do câmbio desfavorável e de algumas perdas de safras por razões climáticas.

Fonte: Giovanni Lorenzon



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