Setor do leite terá ano de desafios com estagnação de consumo

18 Dec 2014

O quadro de oferta e procura e as incertezas econômicos no país trarão desafios para o setor do leite, principalmente por influenciar o consumo interno do produto e seus derivados.

Em novembro, o boletim Focus do Banco Central previu um crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil em torno de 0,8% e, para 2015, pouco maior que o 0,21% previstos para este ano. Isto demonstra que haverá uma manutenção ou até redução do consumo desses produtos, principalmente os com valor agregado maior.

A imagem dos produtos lácteos também influencia o mercado, já que muitos especialistas em alimentação saudável recomendam alimentos frescos e pouco industrializados, podendo diminuir a média de consumo, que é de 200 litros/pessoa/ano.

O valor do dólar será ainda um fator determinante, já que o Banco Central indica um câmbio médio de 2,58 para 2015. Isso pode ser interessante para a exportação do produto, caso o mercado interno não absorva toda a produção. Mas é necessária uma visão mais abrangente, pois é preciso considerar as cotações do leite integral no mercado externo. O Rabobank prevê para o primeiro semestre de 2015 cotações em torno de US$ 3000/tonelada, pouco interessante para a indústria brasileira.

Os custos de produção também sofrerão alta devido ao câmbio, porque dependem de insumos importados, como fertilizantes, medicamentos e defensivos agrícolas. Outros componentes que também terão aumento são o salário mínimo, energia elétrica e óleo diesel. O que ainda é incerto é o preço da ração concentrada, que representa 40% da produção de leite.

A Conab - Companhia Nacional de Abastecimento - divulgou que a safra 2014/15 terá uma redução de 3,7% na produção de milho e um aumento entre 3,7 e 6,5% na produção de soja. Com a perspectiva de uma boa safra americana e a recomposição dos estoques mundiais, não há grandes indícios de aumento do preço desses insumos.

Um acontecimento aguardado pelo setor é o fim de cotas da União Europeia, que será em abril de 2015. Esse sistema está em vigor há 30 anos e seu término permitirá a livre produção dos países membros. A continuidade do embargo russo, a União Europeia, Estados Unidos e Austrália, em função da crise com a Ucrânia, podem prejudicar as exportações do bloco, visto que 30% das exportações de queijos e 25% de manteiga têm a Rússia como destino.

Esse embargo abre chance para novos fornecedores, como Nova Zelândia, Turquia e países da América do Sul, pois a Rússia é a segunda maior importadora, perdendo apenas para a China. Em 2013, os russos consumiram 629 mil toneladas de produtos lácteos, segundo o Dairy Austrália.

Mesmo com todos estes indicadores, em 2014, as exportações de lácteos no Brasil foi a segunda da história no setor. No acumulado até outubro o país exportou US$ 280,5 milhões, valor 207% superior que 2013.

No mercado interno, o crescimento econômico fraco impediu uma demanda maior e assim houve pouco aumento nos preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do leite e seus derivados foi de apenas 4,78%, enquanto o de alimentos e bebidas o índice geral variou de 6,0% e 5,05%. Assim os lácteos deixaram de ser os vilões da inflação.

De acordo com o CEPEA, o preço médio do leite pago ao produtor em 2014 foi de R$/L 1,07, apenas 0,6% a mais que 2013. Com isso, tudo indica um 2015 apertado e cheio de desafios para o setor que necessitará de atenção.

Fonte: Gabriela Borsari / Rural Centro



Nosso site possui algumas políticas de privacidade. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para entender quais são, clique em POLÍTICA DE PRIVACIDADE. Ao clicar em Eu concordo, você aceita as nossas políticas de privacidades.