Brasil tem enorme potencial para produção de pescados, diz especialista

23 Jun 2016

A equipe Rural Centro, em parceria com a Mosaike, realizou uma entrevista com o Vice-presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), Eduardo Lobo. O intuito é entender como está o mercado de pescados no Brasil e os problemas e oportunidades da produção.

Qual o papel e importância da Abipesca para o segmento de pescados no Brasil?

A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) foi criada em 2015 com a finalidade de atuar junto aos órgãos públicos para melhorar o arcabouço regulatório do setor, garantindo a devida fiscalização e contribuindo para o acesso da população brasileira a alimentos saudáveis e de alto valor nutricional, além de desenvolver a indústria nacional e equilibrar a concorrência com empresas estrangeiras.

Havia uma carência da indústria de pescados em se relacionar e se comunicar com os órgãos governamentais. Anteriormente, existiam sindicatos e associações regionais com interesses individuais. Dentro do setor dos pescados há profissionais envolvidos na captura, na piscicultura e na carcinicultura, todos com seus sindicatos e associações. A espinha dorsal do setor, que é a indústria de processamento, não tinha um órgão que a representasse. O Conselho Nacional da Pesca (Conepe) deveria representar a nossa indústria, mas ele possui atuação local, na captura dos barcos no norte do País.

Os dois principais diferenciais da Abipesca são, portanto: a união maciça das principais empresas do setor, com os consequentes ganhos em coesão e representatividade, e o foco total no consumidor final, que tem o direito e a necessidade de ter em suas casas os melhores produtos.

A Associação é composta por afiliados que representam em torno de 70% das marcas disponíveis na rede varejista nacional, com um faturamento somado em R$ 3 bilhões. Essas empresas contribuem para o desenvolvimento da indústria nacional gerando mais de 5.000 empregos diretos e 30.000 indiretos em todo País.

O consumo de pescados no Brasil aumentou nos últimos anos. Quais são as expectativas futuras?

Com o aumento do consumo nacional, acreditamos que o produto brasileiro ganhará maior espaço no mercado. Esperamos que, como consequência, nossa indústria tenha um maior reconhecimento, reduzindo as exportações que, atualmente, são originadas principalmente do Chile, China, Noruega, Argentina e Vietnã.

Atualmente, o mercado brasileiro ainda importa mais do que exporta. Na base de junho de 2014 até julho de 2015, foram importadas 396 mil toneladas de pescados, somando US$ 1,4 bilhão. A procura pelos produtos importados se deve, principalmente, ao fator de serem mais baratos e não enfrentarem as mesmas burocracias que os produtos nacionais.

Nossa expectativa é que, com a união da indústria e a pressão junto aos órgãos governamentais – especificamente o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Secretaria da Pesca e Aquicultura –, a produção de pescados nacional aumente e o consumo do peixe produzido no País cresça.

A cultura do brasileiro quanto ao consumo de pescado está aumentando? Como a indústria nacional pode explorar essa mudança?

A procura dos brasileiros por esse tipo de proteína aumentou em média 30% nos últimos anos. Porém, dados do antigo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) indicam que este consumo é de apenas 10,6 kg de pescado per capita, abaixo da média mínima recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), de 12 kg por habitante/ano.

Temos que aproveitar este momento para impulsionar a indústria nacional. Para isso, é necessário que as redes varejistas deem prioridade ao produto brasileiro e o governo incentive a produção. Dessa maneira, o consumidor dará preferência para o pescado nacional, aumentando as vendas e a reputação do setor.

Quais são os produtos com maior participação de produção e qual(is) tem maior capacidade de crescimento?

A lagosta é o principal pescado na pauta de exportações brasileira, com produção de aproximadamente 7 mil toneladas/ano. Desse total, quase 95% é exportado sendo o restante vendido para o mercado interno. Logo em seguida, aparecem Sardinha e Atum.

Com o aumento do consumo interno, vemos o atum como maior capacidade de crescimento.

Como o poder público tem trabalhado para fomentar a indústria nacional de pescados e como esse setor deveria ser tratado pelos governantes?

O Brasil tem um grande potencial para ser o maior produtor de pescados do mundo, pois possui um litoral com 7.400 km de extensão e 8 mil km³ de reservas de água doce. Porém, falta incentivo por parte do governo para fomentar a produção nacional de pescados.

São oferecidos benefícios focados para pequenos produtores, como o Bolsa Pescador e Seguro Defeso. Porém, a grande indústria não possui políticas de incentivos, nem o devido reconhecimento.

 

Fonte: Rural Centro



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