27 Jan 2011

 A pecuária bovina de corte brasileira continua sofrendo com problemas provocados pela seca. Os prejuízos causados pela falta de pasto são de grande tamanho para os pecuaristas já que os animais perdem peso no período de estiagem e muitas vezes até morrem por falta de alimento. Por isso, soluções que viabilizem melhor desempenho dos animais resultam, não só na redução da idade de abate, mas também no aumento do desfrute do rebanho. Como conseqüência, aumenta-se o rendimento da atividade.

 

A safra crescente de grãos e hortifrutigranjeiros têm aumentado à disponibilidade não apenas de grãos de cereais, mas também de subprodutos passíveis de uso na alimentação de bovinos de corte.

 

Dentro deste contexto, a suplementação a pasto ou o confinamento de bovinos utilizando resíduos ou subprodutos da agroindústria tem se mostrado uma alternativa economicamente viável para reduzir o custo da ração e conseqüentemente da arroba produzida melhorando o desempenho da atividade pecuária.

 

CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS

Os alimentos são classificados de acordo com a Associação Americana Oficial de Controle de Alimentos (AAFCO) e o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (NRC) e são divididos em:

Alimentos volumosos - são aqueles alimentos de baixo teor energético, com altos teores em parede celular (FDN) ou em água. Possuem menos de 60% de NDT e teor de fibra bruta superior a 18% na matéria . Podem ser divididos em secos e úmidos.

Alimentos concentrados - são aqueles com alto teor de energia, mais de 60% de NDT, menos de 18% de fibra bruta , sendo divididos em:

• Energético: alimentos concentrados com menos de 20% de proteína bruta na matéria seca.

• Protéicos: alimentos concentrados com mais de 20% de proteína bruta na matéria seca.

 

SUBPRODUTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

BAGACO DE CANA (volumoso)
O bagaço é o principal resíduo da indústria da cana e representa aproximadamente 30% da cana integral moída. É obtido na saída do último moinho da usina açucareira e constitui um conjunto heterogêneo de partículas de diferentes tamanhos, que oscilam entre 1 e 25mm, apresentando em tamanho de 20mm. É um produto de baixo valor nutricional, o teor de proteína na matéria seca, fica entre 1% e 2%, sendo que 90% do nitrogênio pode estar indisponível associado com a fibra, e o teor de fibra ácida entre 58% e 62%. Isto resulta em digestibilidades baixas (25% a 30%), tornando-o um alimento, in natura, de valor nutricional desprezível.

 

Uma alternativa para a melhora na digestibilidade e no aumento do consumo do bagaço é a hidrolise deste bagaço A finalidade básica deste tratamento é causar o rompimento da forte ligação entre a lignina e a celulose, fazendo com que a primeira sendo indigesta, seja expulsa dentro do trato gastrointestinal e a segunda, consequentemente melhor aproveitada como fonte de energia para os ruminantes.

 

Para estabilizar o consumo do bagaço, é necessário um período de quatro semanas para adaptação, usando-se, para isso, um outro tipo de volumoso. O uso do bagaço hidrolizado é viável em confinamentos próximos às usinas de álcool.

POLPA CÍTRICA PELETIZADA(energético-volumoso)
A polpa cítrica é um subproduto de grande produção nacional que inicia seu período de disponibilidade em maio e termina em janeiro, época de entressafra de grãos e de confinamentos de bovinos de corte. A polpa cítrica é o subproduto da fabricação de suco concentrado pela indústria citrícola, sendo constituída por cascas, sementes, bagaço e frutas descartadas e sua principal matéria prima é a laranja.

É um alimento energético que possui características diferenciadas quanto à fermentação ruminal, caracterizando-se como um produto intermediário entre volumosos e concentradas. Em geral, a polpa é caracterizada pela alta digestibilidade da matéria seca, sendo superior até a do milho laminado e por possuir características energéticas de concentrado, e fermentativas ruminais de volumoso. A polpa de citrus seca e peletizada contém aproximadamente 6% de PB, 11% de fibra bruta, 70 a 75% de NDT. É uma boa fonte de fibra digestível (pectina) e energia, devendo-se cuidar com o cálcio, pois pode chegar a ter 2% devido à adição de cal para separar a água.

Em função do seu teor praticamente nulo de amido e dos altos teores de pectina e fibra de alta digestibilidade a polpa cítrica apresenta um padrão de fermentação ruminal diferente da observada com os grãos de cereais, com menor produção de propionato e lactato e maior produção de acetato . A maior proporção ruminal de ácido acético causada pela que faz com que este alimento tenha uma menor chance de propiciar acidose ruminal, diferentemente do que ocorre com as fontes energéticas mais usuais, como os cereais, ricos em amido.

TRIGUILHO (energético)
Durante o processo de limpeza do trigo, são separados grãos quebrados, chochos, pequenos, sementes de outras plantas e outras impurezas, resultando a somatória no produto chamado triguilho. Na alimentação animal seu valor nutritivo é semelhante a do milho, porém é mais rico em proteína.

 

Apresenta proteína bruta em torno de 13% a 14%, 2,7% a 3,0% de fibra bruta e em media 2,2 % de gordura. É um produto de alto valor para a alimentação animal,entretanto, poderá vir contaminado com sementes de plantas tóxicas, muitas vezes com excesso de impuresas, o que limita sua utilização.

MELAÇO DE CANA
É um subproduto da fabricação ou da refinaria do açúcar da cana. É um liquido xaroposo, de cor escura, de odor característico e agradável. É bem aceito pelo gado em geral, sendo muitas vezes utilizado com a finalidade de melhorar a aceitabilidade de alimentos grosseiros e poucos palatáveis. Ingerido acima das quantidades indicadas tem efeito laxante. Seu valor nutritivo é dado principalmente pelos açúcares dos quais contem cerca de 55%, é pobre em proteína com 2,8%. Para bovinos em engorda o limite recomendado por cabeça é de 6,0 Kg por dia sendo que a administração deve ser feita inicialmente em pequenas quantidades, crescentes ate atingir os limites indicados.

RESIDUOS DE MILHO
FARELO DE GLÚTEN DE MILHO 60 - é o resíduo seco de milho após a remoção da maior parte do amido e do gérmen, e da separação do farelo pelo processo empregado nas fabricações do amido de milho ou do xarope, por via úmida, ou ainda, pelo tratamento enzimático do endosperma. Ë uma excelente fonte de proteína (e proteína não degradada no rúmen) e energia, não é muito palatável . Como nome comercial é conhecido por protenose ou glutenose.

 

FARELO DE GLÚTEN DE MILHO 22 - é a parte da membrana externa do grão de milho que fica após a extração da maior parte do amido, do glúten e do gérmen pelo processo empregado na produção do amido, ou do xarope por via úmida. Pode conter extrativos fermentados do milho e/ou farelo de gérmen de milho. É uma boa fonte de proteína (aproximadamente 22%, de alta degradabilidade ruminal) e energia comparável ao do sorgo, tem média palatabilidade. Como nome comercial é conhecido por promil ou refinazil.

 

PALHADAS e SABUGOS - é um resíduo da colheita do grão que pode ser utilizado como fonte de fibra na dieta de ruminantes, é de baixo valor nutritivo;

RESIDUOS DE SOJA
Nos processos de extração de que utiliza os grãos descascados, resta um resíduo que é constituído pela casca e fragmentos de soja. O farelo constituído por estes resíduos apresentam em media 17% de proteína e 29% de fibra bruta, não sendo, portanto, um alimento de alto valor. Assemelha-se ao feno quanto ao teor de fibra, porem esta muito longe do valor da farinha de torta de soja.

 

As cascas sem os fragmentos do grão possuem baixo teor de lignina(2%), é relativamente alto em energia (77% de NDT) podendo chegar a 80% do valor energético do milho, é uma boa fonte de fibra digestível(pectina) com ate 90% de digestibilidade e possui baixo teor de carboidratos estruturais , pode ser classificada como produto intermediário entre concentrado e volumoso, semelhante ao que ocorre a polpa cítrica e resíduo de cervejaria, desempenhando papel fisiológico de fibra vegetal e funcionando como um grão de cereal em termos de energia.

 

Sua inclusão pode ser de ate 20% da ração para bovinos de corte e pode ser substituto de alimentos ricos em amido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha dos alimentos para composição da dieta dos animais deve ser feita, em primeiro lugar, pela qualidade geral dos mesmos, ou seja, nunca devem ser utilizados alimentos mofados, rancificados ou com qualquer outro indício de deterioração, sob pena de comprometimento do lote de animais em conseqüência de distúrbios metabólicos e intoxicações e também pela condição insalubre de trabalho para os tratadores.

 

Alguns alimentos, por uma ou outra razão, têm um limite para utilização. Como regra, para o caso de alimentos não usuais, o limite de emprego não deverá ultrapassar a 20% da ração total. É muito importante que os animais sejam adaptados gradativamente à dieta. A não adaptação à dieta tem sido responsável por distúrbios como acidose e timpanismo nos confinamentos. Os alimentos novos da dieta devem ser incluídos à ração em proporções crescentes até atingirem a proporção final da ração balanceada a ser usada.

 

Em caso de necessidade de mudança de algum dos componentes da ração, esta deverá ser feita também de forma gradual, de maneira a permitir que a população microbiana do rúmen se adapte à nova dieta. É de grande importância ainda que a água fornecida aos animais seja de boa qualidade e esteja sempre disponível.

 

Fonte: Divulgação Novilho Precoce-MS



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