Produtor de Sucesso: Criação de Jacarés

15 Jul 2011

 

Tudo começou com uma notícia no jornal. A reportagem anunciava que a Esalq de Piracibaba/SP - a Escola Superior de Agricultura da USP – estava procurando parceiros na iniciativa privada para dar continuidade ao trabalho de preservação dos jacarés-do-papo-amarelo, já que a universidade não dispunha de mais espaço físico e recursos financeiros para o projeto. A proposta soou interessante para Glenn Collard, ele que hoje é responsável técnico pelo Criatório Arurá.
 
“Eu gostei da proposta primeiro por ser médico veterinário. E em segundo lugar, por que achamos que era interessante uma parceria com a universidade, além de ajudar na manutenção da espécie”, explica Collard. A parceria foi fechada em 1997, com compra de 60 animais para a propriedade, em um projeto caracterizado como conservacionista.
 
Atualmente, passa de 1300 o número de animais nas propriedades do Criatório. A própria atuação do projeto mudou, quando em 2002 a espécie saiu da lista de animais em risco de extinção. “Quando isso aconteceu, quase que imediatamente o Ibama liberou a comercialização da carne do animal”, relembra o veterinário. 
 
Ainda assim, o caráter conservacionista permanece. O próprio Ibama faz a doação de animais apreendidos ou capturados, que são microchipados para identificação e são usados exclusivamente como reprodutores – evitando a consanguinidade entre os animais do Criatório.
 
“Nosso trabalho não é extrativista, como no Pantanal. Os animais não são tirados da natureza, mas sim criados exclusivamente em cativeiro”, finaliza. Em um sistema de escalonamento de abate, a cada mês são produzidos cerca de 230 kg de carne de jacaré nas duas fazendas do criadouro – uma em Artur Nogueira (SP) e outra em Barra Mansa (RJ).
 
Carne e mercado
 

 
De acordo com Collard, uma das grandes lendas em torno da carne do jacaré é sobre ao seu aproveitamento. “Caiu na boca do povo que só o que se aproveita é a cauda, mas estamos mostrando que não é bem assim”. O veterinário relata que em parceria com institutos de pesquisa, que realizara exames físicos, químicos e mesmo degustação às cegas, comprova a qualidade da carne em todo o corpo do animal. Ainda assim, a crença popular se reflete nos valores do mercado. Dependendo do corte, o valor do quilo da carne pode ir de R$ 23 a R$ 45, sendo a cauda o de preço mais valorizado. 
 
O aproveitamento da carcaça do réptil também é interessante para o produtor, e chega a 65%. Isso sem falar nos órgãos internos, que também são comercializados. “São fontes muito ricas de proteína, e são consumidos normalmente”, relata Collard. “Aproveita-se tudo, desde a língua, até os rins, fígado e coração”. Os principais compradores dessa carne exótica são butiques de carne e restaurantes, mas bares e choperias que oferecem a isca como petisco também integram o grupo. Ainda que com um mercado seleto e específico, toda a produção do Criatório fica restrita à região sudeste.
 
A situação não acontece somente com o Arurá. A produção nacional como um todo é insuficiente para atender as demandas e, segundo Collard, mal explorada. “Nossos vizinhos sul-americanos estão anos na nossa frente. Bolívia e Colômbia são os maiores exportadores do mundo. E isso que nós temos uma área 20 vezes maior!”. No mercado internacional, a carne é apreciada especialmente por países asiáticos, como Tailândia e Vietnam. O couro é inteiramente bastante valorizado. “Mais até do que no Brasil”, afirma Glenn Collard. 
 
Sustentabilidade
 
Há mais de dez anos acompanhando o mercado, uma das grandes preocupações do criatório não é nem mesmo com o presente, mas sim com o futuro. “Se hoje ainda não conseguimos atender nem mesmo a demanda do mercado interno, mais para frente a expectativa é crescer e passar a exportar”, relata Collard. 
 
O mercado internacional, no entanto, é muito mais rigoroso, e exige comprovação de bem-estar animal, boas práticas sociais e ambientais e rastreabilidade total da carne. Todas ações que já estão sendo tomadas pelo empreendimento. Mais do que isso, o papel social é completo com a integração da comunidade do entorno. 
 
É o que acontece na fazenda de Barra Mansa, onde artesãos do distrito local expõem peças temáticas feitas de couro de jacaré, palha ou madeira dentro do Criatório. O local recebe constantes visitas de escolas ou turistas, com acompanhamento de um guia que explica um pouco da história da evolução dos répteis com mais de 250 milhões de anos, seu papel na natureza e na cadeia alimentar. O caminho também é acessível para deficientes físicos. 
 
Serviço:
Criatório Arurá - www.arura.com.br
 

Fonte: Andriolli Costa / Rural Centro



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