Deterioração do rio Piracicaba é monitorada por 365 dias

15 Dec 2011

Pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, traz resultado inédito sobre a influência das ocupações agrícolas, urbanas e industriais na qualidade e quantidade de água disponível no rio Piracicaba. Para a elaboração de sua tese, o doutorando Diego Vendramini coletou amostras do rio durante 365 dias, sempre na mesma hora e local. O resultado foi preocupante, principalmente pelo registro de porcentagens além do limite máximo permitido pelas entidades ambientais regulamentadoras. O pesquisador cita como exemplo, a quantidade de fosfato 32 vezes maior que o permitido e as altas cargas de carbono orgânico particulado e dissolvido, em outras palavras, coliformes fecais.

Sob coordenação do professor Jefferson Mortatti, a pesquisa levou em conta o fato de a deterioração das águas em bacias de drenagem estar intimamente relacionada com o crescimento e a diversificação das atividades humanas. Ele explica que “os resultados preliminares já se mostram de suma importância para a atuação dos orgãos ambientais regulamentários”. Vendramini concorda com o impacto dos resultados de seu estudo em definições futuras sobre o rio Piracicaba. E diz que “diante da detecção de espécies químicas inorgânicas, há como entender a necessidade de melhorias nos atuais sistemas de tratamento de esgoto.”

O pesquisador constata, no entanto, que o processo de tratamento de esgoto deve ser melhorado não só em Piracicaba mas também em todas as cidades integrantes da bacia hidrográfica”. Pois, além das concentrações de poluentes, a carga de carbono transportada diariamente chama a atenção, ou seja, “constatou-se a grande influência do homem na bacia do Piracicaba”, completa.

Monitoramento da água

De acordo com o doutorando, durante um ano inteiro (de fevereiro de 2010 a janeiro de 2011), o rio Piracicaba foi monitorado diariamente, em termos das cargas dissolvidas e particuladas, perfazendo um total de 365 coletas de água e sedimentos em suspensão, cobrindo os períodos de chuvas intensas e estiagem prolongada. “A pesquisa quantificou os transportes das principais espécies químicas dissolvidas, a qualidade química das águas do rio Piracicaba, bem como as cargas de sedimentos em suspensão em função das classes de chuva na bacia de drenagem, o que foi inédito nesse tipo de estudo”.

Os modelos matemáticos de transporte foram bilogarítmicos, conforme a maioria dos rios mundiais. “A qualidade química das águas fluviais se mostrou sempre associada aos aportes antrópicos (esgotos domésticos e efluentes agroindustriais).

Durante o período chuvoso, quando se normalizam os resultados pela poluição, a regulação foi devido a drenagem superficial, bem como ao aporte pluvial, enquanto que durante a estiagem as influências se mostraram mais evidentes. “Embora o mecanismo de transporte fluvial seja o mesmo ao longo do ano, a qualidade química da água é diferente para cada classe de chuva, sendo variável sazonalmente”, conta o pesquisador.

Período de chuva e estiagem

As principais cargas dissolvidas transportadas durante o período chuvoso foram de bicarbonato (1.200 toneladas/dia), sulfato (500 toneladas/dia), cloreto (300 toneladas/dia) e nitrato (140 toneladas/dia), cálcio e sódio (450 toneladas/dia cada um), potássio (160 toneladas/dia), com uma carga orgânica de 400 toneladas/dia de carbono orgânico dissolvido (COD).

Durante a estação seca, as cargas principais foram de bicarbonato (300 toneladas/dia), sulfato (180 toneladas/dias), cloreto (130 toneladas/dia), nitrato (30 toneladas/dia), sódio (220 toneladas/dia), cálcio (60 toneladas/dia) e potássio (20 toneladas/dia), com uma carga orgânica de 13 toneladas/dia de COD.

Cabe salientar que, durante o período chuvoso, o carbono orgânico particulado (COP) – esgoto puro – transportado pelo rio Piracicaba foi cerca de 30 vezes superior ao COD, ao passo que, durante a estiagem prolongada, o COD foi duas vezes a carga observada para o COP.

Pesquisador e coordenador ressaltam as características científicas do trabalho de doutorado, que resultará num material de consulta de fundamental importância para a despoluição da bacia do rio Piracicaba. “Nossos dados vão colaborar com estudos anteriormente realizados, aprofundando os conhecimentos hidrogeoquímicos de forma a contribuir, em termos científicos, para um melhor entendimento dos principais processos erosivos. Fizemos um monitoramento intenso e detalhado, avaliando os aspectos dinâmicos da carga dissolvida e particulada em funções das classes de precipitação ao longo de um ano inteiro de pesquisa”.

A tese de doutorado Aspectos hidrogeoquímicos de uma microbacia reflorestada com Eucalyptus grandis no município de Angatuba – São Paulo foi defendida no CENA, em 2009, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Fonte: Agência USP



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