Gestão de compras na pecuária: custo de produção de gado de corte

15 Dec 2011

Você sabe qual o custo de produção de um boi em sua fazenda? Esses cálculos são essenciais para definir a gestão de compras na pecuária. Embora esta seja uma atividade perene, o fim de ano pode apresentar uma boa oportunidade para realizar tarefas gerenciais dentro da propriedade.

Alexandre Scaff Raffi, Novilho Precoce MSO presidente da Novilho Precoce MS (Associação Sul-mato-grossense do Produtores de Novilho Precoce), Alexandre Scaff Raffi, revela que o custo mensal de uma cabeça de gado em sua propriedade (Fazenda Boa Esperança) foi de R$ 25 em 2011. Dentro desta conta estão as despesas variáveis, como sal mineral e medicamentos veterinários, e custos fixos, como energia elétrica e funcionários. “Quando se fala em gestão de compras da pecuária, a gente pensa em economizar. Aí a gente briga por preço de vacina pra aftosa e quer comprar uma de segunda linha para deixa de gastar 20 centavos. Você vai gastar 40 centavos a menos por ano em um animal que custa 1800 reais. O que isso representa?”, indaga o presidente da Novilho Precoce MS.

A mesma linha de raciocínio segue o pesquisador do Cepea, Sérgio de Zen. “O pecuarista sempre quer ver a arroba acima de R$ 100, mas não representa exatamente o melhor pra ele”. De Zen comparou o preço da arroba do boi gordo em 2011 com meados da década de 90. O valor, apesar de representar menos da metade do que é hoje, remunerava melhor o criador.

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Confinar 2014
06 e 07 de maio em Campo Grande/MS

 

A conta é simples
Alexandre Raffi, da Novilho Precoce MS, afirma que pode fazer em dez minutos o cálculo de custo de qualquer fazenda. “Quando começa a colocar no papel, muito produtor começa a dizer que uma parte da receita foi pro carro novo da família, pra uma casa nova. Não importa. Se todo o dinheiro dele vem da fazenda, deve fazer parte da conta”, simplifica Raffi, conforme o exemplo que ilustramos abaixo:

confinamento de gado de corteCusto de produção em um confinamento: em média R$ 5,00 por dia, ganhando 1,5 kg por dia, resultando em 30 kg em 20 dias. Ou seja, o custo de produção da arroba em confinamento (incluindo os 50% de rendimento de carcaça médio) é de R$ 100,00.

boi a pastoSe na Fazenda Boa Esperança, o gado a pasto ganhar cerca de 300 gramas por dia, para ganhar os mesmos 30 quilos seriam necessários 100 dias. Nas contas de Alexandre, uma cabeça consome em média R$ 1,20 de pastagem por dia. Sua arroba produzida, então, custaria R$ 120,00.


O resultado, 20% a mais que o custo da arroba produzida num confinamento, alertou Alexandre para um fator importante. “Se eu fizer meu gado ganhar um pouco a mais do que ganha, vamos dizer 400 gramas por dia, ele vai engordar uma arroba em 75 dias, com um custo total de 90 reais. Aonde que eu devo investir então, na gestão de compras na pecuária ou no ganho de peso do meu animal?”, questiona Raffi.
 

Sistema produtivo Custo diário GPD Custo da @ produzida *
Confinamento R$ 5,00 1,5 kg R$ 100,00
Pasto R$ 1,20 ** 0,3 kg R$ 120,00
Pasto R$ 1,20 0,4 kg R$ 90,00

Custo da arroba produzida contando com 50% de rendimento de carcaça médio, ou seja, 30 kg de carcaça representam 15 kg de carne.
** Custo do pasto por animal/dia. Média da Fazenda Boa Esperança, de Alexandre Scaff Raffi.

O ideal, segundo o presidente da Novilho Precoce MS, não é todos investirem na reforma de pastagem, mas que façam suas contas e saibam onde devem investir. “A minha propriedade é relativamente pequena, por isso eu tenho que produzir mais em uma área menor. Se o pecuarista tem 10 mil hectares, a conta dele não vai ser a mesma que a minha”, pondera Alexandre.

Aumento dos custos de produção
Em palestra realizada durante o evento MS Agro 2011, o pesquisador Sérgio de Zen, do Cepea, afirmou que mão de obra e suplementação mineral foram os custos que mais subiram na pecuária nos últimos anos. Uma das tabelas que ilustrava sua palestra mostrou que o custo da mão de obra subiu 27,55% e que a suplementação mineral cresceu 23,3%. “Sistematicamente o custo de produção da pecuária vem crescendo. De 2009 até 2011, o custo mensal de uma cabeça de gado na minha fazenda passou de R$ 15, depois pra R$ 20 e esse ano foi R$ 25”, informa Alexandre Raffi.

Insumos/serviços Custo de produção anual da Fazenda Boa Esperança em 2011
Funcionários 10,9%
Sal Mineral 6,9%
Produtos veterinários 4,3%
Diesel 2,8%
Formação de pasto 1,2%
Boi magro Preço médio de R$ 700,00
Boi gordo Remuneração média de R$ 1.800,00 em 2011


Mão de obra
Sérgio de Zen, do Cepea, prestou atenção ainda para um fato curioso: a pecuária brasileira ainda remunera os funcionários baseados no salário mínimo. “Isso atendia as expectativas antes de o valor do salário mínimo ser uma decisão meramente política. Hoje o pecuarista tem que remunerar seu funcionário de modo que ele possa injetar esse dinheiro de volta na economia”, recomenda De Zen.

A riqueza está na terra 
riqueza da terraPara o presidente da Novilho Precoce, o pecuarista nunca foi tão cobrado sobre seus resultados quanto é hoje. "Nós nunca fomos tão apertados. Hoje chega um arrendatário e quer sua terra pra produzir, aí você tem que saber quanto é o seu lucro por hectare", recomenda Raffi. Segundo ele, o lucro médio de um hectare na agricultura é cerca de R$ 400,00, cujo retorno é num curto espaço de tempo, aproximadamente quatro meses. "Você tem que gastar uns R$ 1.200,00 por hectare entre adubar a terra, comprar o melhor inoculante e semente, mas tem retorno médio de R$ 1.600, 00". Alexandre iniciou em 2011 o sistema de integração lavoura-pecuária. Ele plantou 80 hectares de soja e vai fazer sua primeira colheita em 2012. 

Sérgio De Zen, do Cepea, afirma que cada vez mais a agricultura toma o espaço da pecuária, principalmente com a expansão da área de plantio de soja. Para Alexandre Raffi, são dois principais impactos na atividade pecuária hoje. "Você tem as novas culturas, como a cana, soja e o eucalipto, e o nosso custo de produção por hectare. Nós temos que perceber que a verdadeira riqueza do agropecuarista não está no gado ou na cultura que ele planta. A riqueza está na terra dele e no que ela pode produzir", conclui Raffi.

Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro



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