Clima diferencia manejo da cana no Brasil e na Austrália

05 Aug 2011

Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, revela que os sistemas de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar da Austrália e Brasil mostram diferenças significativas nos métodos de manejo dos canaviais, em razão, sobretudo, das diferenças climáticas entre os países. O estudo da engenheira agrônoma Ariane Ludolf de Oliveira, realizado junto a agricultores em Proserpine (Austrália) e Piracicaba, Araçatuba e Lençóis Paulista (Brasil), mostra que a baixa disponibilidade de terras e mão-de-obra para cultivo leva a produção australiana a ser totalmente mecanizada, com uso de fertilizantes e defensivos superior ao dos plantadores brasileiros, levando a uma maior eficiência e produtividade.

A Austrália, com território formado por diversas áreas impróprias para o cultivo de qualquer cultura, concentra toda sua produção de cana-de-açúcar na costa leste do país (litoral), e não possui novas áreas aptas para a expansão da produção. A existência de extremos pluviométricos durante o ano também prejudica a produção agrícola (toda chuva concentrada nos meses de verão e estação seca durante o restante do ano), tornando fundamental a utilização de sistemas de irrigação e drenagem dos canaviais.

O Brasil, se comparado fisicamente com a Austrália, possui características excelentes para a produção de cana-de-açúcar, já que as necessidades da planta na maioria dos casos podem ser suprimidas sem intervenções humanas. Além disso, o País conta com grande fronteira agrícola para a expansão da cultura. “O período de safra australiano inicia-se na segunda quinzena de junho e alonga-se até o final de outubro, sendo, portanto, reduzido em relação à safra brasileira que no estado de São Paulo se estende de abril a novembro”, comenta Ariane.

Outro fato marcante destacado sobre o sistema de produção canavieiro australiano foi a alta mecanização da produção quando comparada com as práticas dos fornecedores brasileiros. “Todas as etapas de plantio, manejo e colheita da matéria-prima são feitas mecanicamente. Isso se dá principalmente pela escassez de mão-de-obra no país e seu consequente alto custo de contratação”, conta Ariane. “O alto custo de mão-de-obra na Austrália incentiva a ocorrência de funcionários fixos especializados responsáveis tanto pelas operações produtivas como pelo gerenciamento e administração da propriedade”, aponta.

Produtividade

A Austrália apresenta maior produtividade, assim como maiores preços e taxas de utilização de fertilizantes e defensivos. “Os insumos utilizados no manejo da produção são análogos aos utilizados nos canaviais brasileiros, diferindo apenas quanto aos momentos e taxas de aplicação em consequência da diferença entre os tipos de solo e comportamento da água no sistema agrícola”, afirma a engenheira. “Na Austrália observou-se que operações mecanizadas envolvem o uso de tratores e implementos maiores e mais eficientes que os tipicamente utilizados no Brasil”.

As práticas no transporte de cana-de-açúcar também são bastante diferentes nos dois países. Além disso, na Austrália, em geral, a usina é responsável por todos os gastos de transporte da matéria-prima do campo a indústria. É comum o uso do transporte ferroviário até a unidade processadora. “O transporte por caminhão, no estado de Queensland, é pouco intensivo e atua no apoio ao transporte ferroviário. Dessa forma, os caminhões usados na Austrália são comparativamente menores e mais ágeis que os utilizados no Brasil, onde não existe o uso de transporte ferroviário de cana-de-açúcar e caminhões — contratados pelas usinas e pagos pelos fornecedores — são utilizados em distâncias médias de 25 quilômetros”, explica.

De acordo com a pesquisa, a realidade dos fornecedores australianos é caracterizada por extremos climáticos e carência de mão-de-obra. “O desenvolvimento da produção de cana na Austrália está fundamentado nas competências locais para o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia”, aponta Ariane. “Para o Brasil, o desafio dos fornecedores é seguir os bons exemplos australianos na mecanização das atividades agrícolas, técnicas de gerenciamento e pesquisa de forma a aumentar a produtividade, reduzir custos e vencer os desafios na contratação e treinamento de novos trabalhadores e preservação do meio ambiente”. Com relação aos resultados econômicos, o trabalho destacou similaridade no nível de competitividade da produção por fornecedores de Proserpine e Piracicaba. “Entretanto, em Proserpine os produtores contam com benefício de não arcar com o transporte da matéria-prima”, conclui a engenheira agrônoma.

O estudo foi desenvolvido em um programa de intercâmbio entre a Esalq, a Universidade de Queensland e a Associação de produtores de cana-de-açúcar australiana (Canegrowers). Com objetivo de promover pesquisas e discussões sobre aspectos relevantes da produção sucroenergéticas no Brasil e Austrália de forma a produzir informações e formar profissionais para o setor de ambos dos países, o intercâmbio ocorreu a partir de iniciativa do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege) e Rex Consulting, com apoio do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log).

Fonte: Agência USP



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