Mulheres no Campo: Aurora Real

11 May 2012

Em homenagem ao dia das mães, a Série Mulheres no Campo deste domingo relata a biografia da Aurora Real, Presidente da Associação Sul-mato-grossense de Girolando e também produtora de leite em Jaraguari/MS.

Como se não bastasse, Aurora, que é médica veterinária, trabalha na Clínica Veterinária Bourgelat. Além do lado profissional, Aurora também é mãe e esposa. Conheça e inspire-se nos conselhos dessa mulher de sucesso.

Rural Centro - Antes de falarmos de toda a sua trajetória profissional, vamos começar a entrevista falando da sua família. Com tantas responsabilidades profissionais, como conciliar a Aurora Mãe, Aurora Esposa e Aurora Mulher?

Aurora Real - “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”... Esta tem sido a opção do meu viver!!!

Quando pequena tive uma grande perda familiar e aprendi que a opção pela alegria abre mais portas e facilita nossa trajetória!

Na verdade, a família é o ponto de impulso para todas as atividades... É na parceria que consigo realizar meus sonhos e é para isto que estamos aqui. Viver, ser útil e ser feliz.

RC – A frente de uma forte entidade representativa, onde a maioria dos associados é composta por homens, quais são os maiores obstáculos e como foram superados?

AR - Hoje não existem mais espaços exclusivamente masculinos, existem atualmente muitas mulheres tratoristas, ordenhadoras, mestre de obras, motoristas e outras ocupações, tanto que considero ilimitadas as funções para as mulheres.

Na presidência do Núcleo de Criadores da Raça Girolando no estado de Mato Grosso do Sul, a maior dificuldade é a própria valorização do setor leiteiro no Estado. Sempre tivemos todo apoio da Diretoria e Associados, mas a mudança da “Cultura do Leite”, isto é, do conceito econômico e social do Leite, do valor  da Produção e Genética, da obtenção de mão de obra qualificada  são os maiores obstáculos a serem vencidos.

RC - No setor pecuário, na sua propriedade em Jaraguari, você tem participação apenas na área administrativa ou é mulher do tipo que coloca a mão na massa, ou melhor, a mão na terra?

AR - No nosso caso, Mão na Terra é Mão no Leite! Trabalhando sempre na atividade de médica veterinária em clínica de pequenos animais, tive dificuldades no setor administrativo na área rural.

Foi nesta época que buscamos apoio no SEBRAE (Educampo) e depois no Projeto Balde Cheio (Cooperideal), para auxiliar na captação, no diagnóstico e gerenciamento dos dados financeiros e dos animais. Colher os resultados do trabalho é o mais envolvente na atividade, principalmente no manejo reprodutivo dos animais, produzindo genética diferenciada.

RC - Conte-nos um pouco da sua vida, do início do contato no campo?

AR - Meu pai, um italiano apaixonado pelo Brasil, era engenheiro e Topógrafo, por isso, nós vivíamos em um trailer percorrendo o Brasil afora, onde ele encontrava terras para medição  e muitas aventuras, abrindo “picadas”por estes sertões.

Quando eu completei 10 anos, perdemos este ser aventureiro, agora éramos apenas a minha mãe, meu irmão de 5 anos e eu. Foi então que aprendi que o propósito de Deus está acima das circunstâncias e que fé e perdão restauram a alma e te fazem seguir avante!

Dona Olga, pessoa de fibra e metas, formou dois veterinários, sempre trabalhando com a terra. Inclusive a minha decisão por esta profissão foi inspirada pelo meu irmão, que é aquele tipo de pessoa rara que tem o dom de entender completamente a linguagem dos animais.

Após a formatura, fui trabalhar em Ivinhema, em uma agropecuária e assistência a um pequeno laticínio. Era maravilhosa a experiência de ajudar pequenos proprietários a trocar touro nelore por touro leiteiro, melhorar a genética e influenciar positivamente a sua produção e sanidade.

Fazer uma cesariana com a luz do trator ligada era comum e recebia como pagamento vidros de doces, abóboras, porcos e galinhas. Foi uma época de grandes aprendizados e muitas emoções.

Depois trabalhei num Zoológico e em aldeias indígenas. Após este período, morando em Campo Grande, fui atuar na Clinica Veterinária Bourgelat de propriedade da família Real, cujo patriarca, Claudio Martins Real, meu eterno mestre, apresentou-me a Homeopatia Veterinária e uma frase especial do fundador da Homeopatia Samuel Hannemam: “Na arte de salvar vidas, deixar de aprender é crime”.

Nesta clínica, conheci um grande cirurgião veterinário, que salvou meu animal de um grave ferimento, tornando-se meu herói e depois meu marido.

Mas, agora era hora de trazer minha família de Ivinhema para perto de mim e decidimos vender a propriedade e mudar para estas terras onde canta o sabiá...

Mas somente de poesia não se vive e para tornar viável a renda mensal, optamos pela atividade leiteira. E, com apoio de meu esposo que me estimula e compartilha deste interesse pelo leite, estamos seguindo em frente.

RC - Quais são os conselhos que você pode dar para a mulher que também se divide entre a vida pessoal e profissional?

AR - Gostar do que faz e ter parcerias em casa é fundamental. Estabelecer prioridades no dia. É importante que todos da família saibam o que fazemos, para entender os atrasos nas reuniões de pais, a falta de andar de bicicleta naquele dia escolhido, a energia que às vezes fica sem bateria para sair para uma festa.

Conciliar a “Arte de Ganhar a vida com a arte de VIVER a vida”. Separar tempo para respirar, afiar a enxada, fazer uma atividade física, mesmo que seja uma caminhada, ter um tempo para a alma, para agradecer a Deus, assim seremos pessoas melhores conosco e com quem está ao nosso redor!

RC - E para o produtor que quer iniciar com a criação de Girolando, qual é o primeiro passo a ser tomado?

AR - O Leite está ocupando espaço importante no nosso Estado. Temos grandes laticínios que estão trabalhando abaixo de sua capacidade por falta do maravilhoso produto chamado Leite. É a Hora de investir nesta atividade!

Etapas: Decisão; Definição da área ; Piquete X capim; Campineira X silagem; Estrutura de ordenha; Animais; Manejo administrativo X reprodutivo X nutricional

É muito importante participar de associações ou grupos para debater  e aprender sempre! Contamos com apoio de cooperativas e técnicos, SEBRAE ,SENAR , sindicatos e associações, com cursos e palestras voltadas para este setor! É importante não ter medo de errar e de continuar.

RC - E as metas para este ano, dentro e fora da Associação, quais são?

AR - Abertura de escritório regional aqui em Campo Grande da Associação Nacional dos Criadores da Raça Girolando, para registros de animais e todo apoio técnico para o crescimento da Raça.

Continuidade do Núcleo de Criadores de Girolando MS (NCGMS), com reuniões mensais para discutir  assuntos do interesse dos produtores , como leilões, exposições/julgamento da raça/ torneios leiteiros, parceria com diversas empresas, valorização da genética, valores pagos pelo litro de leite entre os laticínios,  cursos e palestras diversas.

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Fonte: Ana Brito / Rural Centro



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