Mulheres no Campo: Sibele Cação, presidente do CRMV/MS

24 Mar 2012

No comando do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Mato Grosso do Sul, em uma profissão que durante um bom tempo foi predominantemente masculina, esta é a doutora Sibele Luzia de Souza Cação, a personagem da Série Mulheres no Campo deste domingo.

Entre tantos ensinamentos, o principal: Não utilizar uma posição elevada em qualquer área como trampolim para interesses pessoais e sim para realizar transformações para o benefício da sociedade onde vivemos

Rural Centro - Para começar, conte-nos um pouco da sua vida, da sua família e o que te levou a escolher a medicina veterinária como profissão.

Sibele Cação - Eu nasci em uma família de pecuaristas, tanto do lado do meu pai quanto do lado de minha mãe. Ambas as famílias vieram de Minas Gerais, na época da colonização do Mato Grosso do Sul. A exceção ficou por conta de meu avô paterno, Agostinho Cação, que era português e veio para Campo Grande depois de chegar ao Brasil pelo porto de Santos e ficar um tempo no estado de São Paulo.

Como tive uma infância predominantemente rural, meu convívio com os animais e com a natureza foi muito intenso. Eu não brincava com bonecas. Aliás, eu não suportava aqueles brinquedos que não se mexiam. Meu prazer era lidar com os animais desde pequena, porque eles tinham vida, se comunicavam.

A paixão pela profissão já nasceu desde essa época, pois eu adorava cuidar dos bichos: gatos, cães, bezerros, potros, porcos, patos e galinhas, pois tínhamos todos eles nas fazendas dos meus avós e posteriormente nas propriedades dos meus pais, além dos animais silvestres, que acabavam sendo socorridos quando atropelados ou encontrados precisando de cuidados.

RC - Quando a senhora assumiu a presidência do CRMV? E quais foram os obstáculos encontrados até então? Alguma dificuldade por ser mulher?

SC - Assumi a presidência do CRMV/MS no final de janeiro de 2010, mas já tinha prestado serviço para a Autarquia no período de 2001 a 2005 como Coordenadora da Fiscalização. Então posso dizer que adquiri bastante conhecimento e experiência nesse trabalho.

Tenho enfrentado obstáculos todos os dias, pois eu tenho um perfil de gestão muito técnico, gosto de fazer meu trabalho da forma mais correta possível e também gosta de mudar, inovar. E isso tem causado muitas resistências, principalmente internas. Mas isso é assim mesmo. A maioria das pessoas tem dificuldades em aceitar mudanças, pois isso força a saída da zona de conforto.

Além disso, o fato de ser mulher contribui para essa resistência, principalmente com os funcionários e com o grupo que está no Conselho comigo, pois ainda vivemos em um mundo onde os homens têm dificuldades em aceitar o comando feminino. Mas, se a gente persiste os resultados aparecem e isso nos incentiva a continuar. Agora, de uma maneira em geral, com os colegas de profissão, nunca tive dificuldades por ser mulher, pois sempre fui uma profissional do campo. Quando eu me propus a ser uma veterinária que atuava em propriedades rurais, talvez por eu ter essa vivência familiar em fazendas, nunca tive dificuldades para trabalhar e adquiri respeito e credibilidade de todos. 

RC - Qual o conselho a senhora dá para a mulher que deseja seguir os seus passos?

SC - É importante que as mulheres ocupem seus espaços, seja como profissional ou como dirigente de entidade.

Esse engajamento traz benefícios importantes para todos, pois na realidade é um trabalho social, já que não é remunerado. Um cargo de presidência, quando executado de forma séria e não simplesmente usado como trampolim para interesses pessoais, é altamente relevante, pois nessa posição podemos provocar transformações para o benefício da sociedade onde vivemos. Para as mulheres que têm essa vocação posso dizer que seguir esse caminho exige muita coragem e comprometimento, mas é altamente gratificante.

RC -  E no meio de tantos compromissos, existe um meio de conciliar a vida profissional com a vida pessoal?

SC - Quando a gente assume um cargo como o da Presidência, a dedicação tem que ser integral. Os outros cargos exigem bem menos dedicação. Mas se a gente não estiver à frente, liderando todo o processo, as coisas não acontecem, pois são inúmeras as demandas. Então, fica complicado conciliarmos a vida profissional com a pessoal, pois a agenda fica muito apertada, temos que viajar com frequência e isso nos priva um pouco do convívio com a família.

Mas, se existem a compreensão e o desejo verdadeiros, por parte dos amigos e da família, de verem o nosso sucesso, então tudo dá certo.

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RC - Quais são os planos para 2012, dentro e fora do CRMV/MS?

SC - Esse ano é o último do período dessa gestão. Sendo assim, os planos para 2012 são de colocar em prático tudo que ainda não deu tempo de fazer em 2010 e 2011, pois eu tenho trabalhado muito com o objetivo de preparar o Conselho, internamente, para que a gente possa alcançar grandes resultados futuramente. Temos que concretizar a retomada da construção da nossa sede nova, que ficou paralisada por vários anos, e que agora está dando muito trabalho para ser concluída. Queremos inaugurá-la esse ano, sem falta, pois nossa sede atual é pequena e prejudica o desenvolvimento do Conselho.

Tenho ainda algumas Comissões de trabalho para serem criadas, pois os resultados que já obtivemos com as que já foram criadas, estão nos surpreendendo, todos estão gostando. A proposta que fizemos de fazermos uma gestão democrática e participativa está dando certo por meio das nossas Comissões e isso me deixa muito feliz. Meu grande objetivo é promover a valorização e a capacitação profissional, principalmente dos veterinários e zootecnistas mais jovens, que precisam de muito apoio. No mais, desejo que tudo transcorra com muita paz e saúde, que eu continue a fazer grandes amigos e que eu consiga, cada vez mais, promover a união entre meus colegas de profissão e que todos continuem me apoiando, como tem acontecido até agora. 

 

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Fonte: Ana Brito / Rural Centro